E.D.N.III é um planeta frio, bastante frio. Além
disso, guarda o futuro da humanidade, que destruiu o seu próprio em busca da
modernidade. Pensando em novas formas de energia consumíveis, a 'intergalática' NEVEC enviou uma expedição ao planeta
congelado para adquirir a maior quantidade de T-Energy que pudessem extrair. No
rolo, o freelancer Jim Peyton e sua mecanotriz descobrem um segredo de quase 40
anos que deveria permanecer enterrado para todo o sempre.
Com uma trama mais
densa em relação aos demais jogos da série ,
Lost Planet 3 encara o desafio de dar uma nova cara ao game. Com isso, a Spark
Unlimited (produtora parceira da Capcom) deixou de lado a visão em terceira
pessoa tradicional, apostando na famosa "over the sholder" (acima do
ombro), mais ou menos o que é encontrado nos últimos jogos da série Resident
Evil (4, 5 e 6). O resultado é percebido logo no começo do jogo, com uma maior
tensão e momentos mais cinematográficos sem que as clássicas cenas em CGs sejam
necessárias.
Tudo em Lost Planet
3 foi pensado para uma maior imersão do jogador. As sequências do tipo
'corredor', com jogador controlando Jim apenas para destravar certas animações
pré-programadas são constantes. Não incomodam, pelo contrário, fazem o bom
trabalho de deixá-lo mais íntimo com o personagem - mesmo ele não sendo tão
carismático quanto deveria.
Jim Peyton é o brother do rolê. Amigo e
prestativo, é aquele tipo de funcionário freelancer que aceita qualquer
contrato. Como um estagiário que quer mostrar serviço. Ele foi para E.D.N.III passar
uns meses (ou anos, como ele mesmo diz) e acumular a maior quantidade de
dinheiro possível para viver melhor com sua esposa e filho, na Terra.
Aos poucos, Jim vai criando laços com algumas
pessoas de E.D.N.III, mas isso não fica tão claro quanto deveria, infelizmente.
O personagem até pode criar esses laços, mas se não for compartilhado com o
jogador, deixa de fazer sentido. E como parte da reviravolta da trama, ele se
envolve numa descoberta que vai abalar os pilares de sustentação da NEVEC e
todos que trabalham nela.
Algo que é preciso
ressaltar, é que a história se passa antes dos acontecimentos narrados nos
demais jogos da série. A costumeira inversão da trama, transformando a
continuação em prólogo com o intuito de seguir uma nova vertente, talvez mais
lucrativa, quem sabe. Por isso, muitos dos equipamentos vistos durante o jogo
são mais antigos em relação ao primeiro jogo, e isso inclui as mecanotrizes,
mais antigas e não preparadas para o combate, como em Extreme Condition. Mas
isso veremos logo adiante.
O combate segue a boa fórmula dos jogos de ação
com armas de fogo. Tiros, cobertura, granadas e explosões. Sem querer, LP3 cria
um clima bastante parecido com o visto em Dead Space, com sustos aqui e ali,
corpos congelados, seres rastejantes e até mesmo uma armadura parecida com a de
Isaac Clarke. No entanto, a exploração é secundária e apenas lhe rende munição
(que dificilmente será exaurida durante um combate), arquivos de vozes e
textos, e T-Energy, a moeda corrente do game.
Uma coisa a qual
não me acostumei muito é esse conceito de base de operações proposto pelo jogo.
Nada muito complexo, aliás, o modelo existe em diversos outros games, mas ficar
indo e vindo depois de toda a missão é um pé no saco. As instalações são
gigantes e absolutamente vazias, os loading impossíveis e cada vez que eu
precisava pegar o elevador para ir até o laboratório científico das instalações
tinha vontade de desligar o jogo e ir para outro qualquer. Sério, uma simples
mensagem de rádio ou e-mail resolveria a situação... Mas não! Temos que
conversar com a pessoa no seu local de NPC sempre que queremos alguma missão
paralela, bem tenso.
Na base de
operações é possível, além de adquirir as missões secundárias conversando com
alguns NPCs, comprar e fazer o upgrade de suas armas e mecanotriz. Aos poucos o
seu arsenal vai se completando, mas algumas armas só são adquiridas no decorrer
da história. Para a mecanotriz, o grande mech disponibilizado pelo game, você
consegue alguns upgrades para ele através de peças especiais que podem ser
trocadas por tais itens. Mas tem um porém, e ele vale um parágrafo inteiro.
Acontece que o combate com os VS (Vital Suits,
no Lost Planet original) em nada se assemelha ao encontrado em LP3. Na real, o
que ocorre no novo game é uma grande decepção se comparado ao original. E
infelizmente é preciso fazer isso. Utilizar uma mecanotriz é, no mínimo, a
parte mais chata do jogo. Isso porque seu robô gigante médio funciona como um
veículo de transporte, apenas. Eles não são como os VS militares equipados para
encarar as adversidades de E.D.N.III, e o próprio Jim Peyton reclama da
proibição do uso de metralhadoras ou qualquer arma que se preze.
Ok, eles são
diferentes modelos, isso dá para entender. Mas devido a mudança para a visão em
primeira pessoa, os combates acontecem de forma desengonçada. Por inúmeras
vezes ficamos perdidos em relação à posição do inimigo, e quando o encontramos,
a única coisa que dá para fazer é se defender no instante que o golpe vai acertá-lo,
para, em seguida, aplicar um contragolpe com a mão gancho. A finalização do
alien é divertida uma, duas vezes, mas torna-se repetitiva, pois é única. Nas
batalhas contra chefes a coisa piora, e o combate torna-se uma espécie de
minigame sem graça.
Não são poucos os
momentos de tensão dentro do jogo. Por vezes somos colocados em situações que a
esperança se esvai, assim como o calor de E.D.N.III. Hordas infinitas de akrids
violentíssimos que querem apenas a sua carne quente. Infelizmente, quase todos
esses momentos são pré-estabelecidos pela história, e muito dos inimigos que
aparecem para você, na verdade não passam de meras ilustrações animadas. Mas
ainda sim, a dificuldade do jogo é justa e não vai deixá-lo aborrecido.
Para o multiplayer, não existem tantos estilos
de jogo quanto um Halo da vida, mas são bem trabalhados. Dos mata-mata
tradicionais, cinco contra cinco, a um modo de sobrevivência três contra três
contra akrids, que lembrou a mim um pouco o multiplayer de Uncharted em alguns
momentos.
A parte de
personalização dentro do multiplayer é bem bacana. Suas habilidades e armas são
mostradas dentro de alvéolos e eles são liberados à medida que você vai
ganhando experiência. Essa experiência pode ser trocada por habilidades
especiais ou armas, dependendendo da sua preferência. É tudo feito em cima de
uma ambientação própria e exclusiva para o modo.
Por fim, impossível
não relatar os inúmeros problemas ligados ao tempo de carregamento de certos
cenários e, principalmente, as bruscas quedas de framerate do jogo. O pior é
que isso sempre acontece quando estamos enfrentando os chefes gigantes do jogo.
Tudo fica tão lento que parece um daqueles jogos de navinha 'bullet hell' da
vida. Uma mancada gigante da Spark.
Lost Planet 3 é o começo de tudo aquilo que já
conhecíamos da história da série. Menos combate, mais história e
desenvolvimento. Uma troca um tanto justa, dada as costumeiras reclamações que
encontramos por aí. Se framerates variados não o incomodam, vale o risco. Fique
frio e divirta-se.